sábado, julho 09, 2005

Capricho de menino


Em Portugal o cargo de deputado é desconsiderado. Muitas vezes visto apenas como ponto de passagem ou campo de treino para os governos. É realmente lamentável que assim seja, porque uma Assembleia da República é o pulsar da democracia. O cargo de deputado não apenas tem sido desconsiderado na corrente geral do desprezo pelos políticos, como é desdenhado pela maioria dos próprios políticos. Vem isto a propósito das declarações de Santana Lopes (Expresso) que admite assumir temporariamente o lugar de deputado após deixar a Câmara de Lisboa. Claro que Santana acrescenta que não tem grande gosto pela função de deputado e que, caso assuma o cargo, é porque quer “defender no Parlamento a honra dos últimos governos do PSD, incluindo do seu, que considera não estar a ser bem tratada pela actual liderança do partido”. Para além das habituais brincadeiras a que este comentário de Santana se presta, ele é revelador da depreciação que mencionava. Se Santana dissesse que não tem gosto pela função e não a assumisse era, apesar de tudo, compreensível. Se dissesse que não tem gosto, mas acredita que é um momento crucial para o país e por isso assume o cargo, também (com mais custo, e uma vez mais, brincadeiras à parte), compreensível. Contudo, não tem gosto pela função, mas considera assumi-la. Considera assumi-la para defender o seu sepultado governo. É capricho e dos rasteiros.