quinta-feira, novembro 17, 2005

Soares visto por Prado Coelho e Pulido Valente

Artigo de Vasco Pulido Valente no Diário de Notícias de 4 de Maio de 2003.
O meu candidato à Presidência da República é, evidentemente, o Dr. Mário Soares. Bem sei que, para certa gente, há o problema de ele ter 81 anos, quando entrar, e 86, quando sair. Erro crasso. O Dr. Mário Soares não envelhece, apura, e, agora, até lhe vejo uma espécie de alegria (um pouco pérfida e muito divertida) em manobrar os melancólicos bonecos da política indígena. Sem ele, a fúnebre procissão da nossa vida pública não se aguentava. Verdade que anda, como lhe compete, num passeio «esquerdista» e que a guerra no Iraque o provocou a algumas declarações duras de engolir. Só que, em Belém, essas coisas passam e ele nunca disse como o inimitável intelectual Carrilho que Bush era o novo Átila. O grande obstáculo ao regresso de Soares está, desconfio, nele próprio. Não o imagino a trocar a doce vida da Europa (sem aspas) pela «comida de banquete» e a dura obrigação de aturar a tempo inteiro os matarruanos daqui. Tanto mais que ele anda delirante com o seu papel de monarca em vias de indicar o sucessor. À esquerda, não existe ninguém. Guterres, que ele já humilhou publicamente, com um comentário assassino e amável, no fundo não conta. Se cair na asneira de se candidatar, o fugidio engenheiro acaba em bombo universal da festa. Com a ajuda, claro, do camarada Mário, que o detesta e não se coibirá de lhe aplicar a sua martelada. Fica a direita e, à direita, o homem que Soares aceitar ou não agredir (não escrevi «apoiar») ganha quase de certeza. Isto, em princípio, põe fora de jogo o Dr. Santana. E também o Prof. Freitas, que, sem perceber, se deixou atribuir um estatuto menor de «companheiro de caminho». Quanto a Cavaco, conseguiu até hoje conservar a sua reserva e a sua posição. Mas, com o campo limpo, nada impede Soares de um dia resolver que afinal lhe apetece uma última batalha. Eu voto nele.

Artigo de Eduardo Prado Coelho no Público de 9 de Maio de 2003
Soares é hoje o mais inventivo, o mais jovem, o mais contagiante político português. Conseguiu associar a desenvoltura com a imagem plena do pai de que o país necessita. Possui uma qualidade preciosa: tem um ar de estar feliz na política. Assume-se como um homem totalmente livre, que não teme desagradar a este ou àquele. Conseguiu perceber por onde passava o relançamento da esquerda contemporânea mais cedo do que todos os outros. Lê muito, escreve muito, fala muito. Só tem um obstáculo: as suas qualidades indiscutíveis suscitam o rancor de todos os aparelhos cinzentões povoados de medíocres embalsamados.

(via Super-Mário)