quinta-feira, dezembro 08, 2005

Segunda parte e finalmentes

A segunda parte do debate ficou muito marcada pela Europa. Para além de Soares ter o mérito de trazer para a discussão esta questão nuclear, consegui marcar uma posição. É europeísta, como sempre foi. Tem um projecto para Portugal na Europa e para a UE. Como ele próprio disse, sem Europa seríamos hoje uma Albânia. Isto é, com a Europa ainda conseguiu acantonar Jerónimo de Sousa ao discurso rígido, de visão curta e titubeante que o PC tem sobre esta matéria. O mesmo, e por arrasto, em relação à China. Confrontado com a interpelação do jornalista, Jerónimo não foi capaz de esclarecer o que pensa sobre o país que recentemente visitou. Soares deu um tiro no porta-aviões. Primeiro evidenciou o Frankenstein. Os EUA ajudaram a criar o monstro… Depois: “A China tem o pior do capitalismo selvagem e o pior do comunismo- o seu autoritarismo”.
Nas alegações finais e para além dos objectivos diferentes de cada candidato, Soares esteve tranquilo. Jerónimo parecia pouco preparado para esse momento. Esperança e confiança é bom. Mas curto.
Quanto à insistência dos jornalistas, no rescaldo imediato, sobre a “grande ausência”- Cavaco, claro- ficou demonstrada parcialidade de quem diz que a esquerda só se apresenta para derrotar Cavaco, ou que Soares só fala de Cavaco. Se não falaram de Cavaco (embora muitas críticas estivessem implícitas) foi apenas porque, e para além de ser um debate entre Mário Soares e Jerónimo de Sousa, ninguém perguntou. Soares só fala de Cavaco e de Cavaco apenas quando, depois de lhe terem perguntado uma miríade de vezes o que pensa sobre o assunto, decidem apurar para o telejornal os 30 segundos em que se prenunciou sobre o candidato do PSD, anulando todas as restantes intervenções. Há crítica ao Cavaco na esquerda. E há muita. Mas, e para além disso, Soares tem um projecto para estas presidenciais. Para o país.
Finalmente, quanto ao modelo do debate, os candidatos fizeram uma sopa-da-pedra. É um modelo pobre, inflexível e muito penteadinho. Soares e Jerónimo, como já disse no post anterior, conseguiram imprimir-lhe uma vivacidade que esteve a dormir no debate da “alegre cavaqueira”.
Para amanhã fica, sem dúvida, o reconhecimento de Jerónimo de Sousa da isenção de Soares. Os elogios ao seu segundo mandato ainda vão fazer correr alguma tinta.
O confronto de hoje mostrou que Soares é contemporâneo, hábil, desarma os jornalistas e passa à segunda volta. Jerónimo é o candidato do PCP e é simpático. Para já assegura o seu eleitorado. Depois apoia Soares em Fevereiro.