quarta-feira, dezembro 14, 2005

Verticalidade e Transversalidade I

Alegre só tem senso-comum. Soares tem mais do que bom-senso. Tem tanto que várias vezes tentou reconduzir o debate para aspectos mais interessantes. E, por fim, teve que, pela enésima vez, chamar a atenção sobre o facto de se estarem a discutir “banalidades”.
É extraordinária a interpretação que Alegre faz dos poderes presidenciais. A dita bomba atómica serve-lhe para quase tudo. A certa altura, fica a ideia de que não é por convicção. É feitio.
O estilo de Alegre foi pouco adequado. Desde elogios aos artigos do próprio jornalista sobre a OTA (quando em diversas ocasiões disse que com uns artigos tinha ficado convencido, com outros nada convencido), à evocação de Sophia M. Breyner, mãe do jornalista. Dizer, a propósito da suas próprias afirmações ( “dormir descansado com Cavaco Silva”) que quem é conhecido por “dormir bem é Soares”, saiu mal. Piada fácil, num debate entre candidatos à Presidência da República, dá buraco.
O facto de Alegre ter aproveitado as “alegações finais” para se dirigir às mulheres e às mulheres apenas, sem apresentar uma única ideia, foi uma instrumentalização. O problema da paridade existe. E é grave. Tomá-lo deste modo, só porque as mulheres são a maioria do eleitorado, porque podem identificar-se com o candidato no pretenso estatuto de vítimas ou porque o candidato supostamente faz charme, é pobre.
Isto sim, é paternalismo.

Não gostei de ver, no rescaldo, alguns jornalistas a dizerem que Soares tinha falado de Cavaco. Independentemente do juízo sobre se isto é bom ou não para o candidato, foram os jornalistas que, pelo menos por duas vezes, puxaram o assunto.
Constança Cunha e Sá esteve mais apagada. E foi desagradável escutarem-se as trocas de impressões, em sussurro, entre os jornalistas.