sexta-feira, setembro 22, 2006

Pós-modernismo à distância dum sofá

"Pós-modernismo relativista numa novela perto de si."

Numa delas (TVI), a filha que andava a traficar droga deixa a mãe arcar com as culpas e passar uma temporada no chilindró. Entretanto e pelo meio do enredo, a filha agora bem casada mete os palitos ao marido e vai namorando com um "rent boy". Este por sua vez, faz parte de uma respeitável rede de prostituição de luxo que serve as necessidades carnais do "gentry" e do "nouveau riche" das Quintas da Marinha que polulam por este país. A mãe outrora uma senhora das limpezas honrada e trabalhadeira com sorte e os atributos físicos necessários desperta a atenção do capital emprestado do Dir. Financeiro da empresa onde trabalha. A sua ascensão é uma lição de vida a qualquer "self-made man" americano. O importante é sonhar e acreditar. A senhora das limpezas é agora uma bem sucedida empresária. A filha redescobre o amor maternal, o apelo da nova conta bancária da mummy deu um empurrão. É para isso que o dinheiro também serve ... aproximar as pessoas.
Entretanto na novela podemos igualmente testemunhar o esforço hercúleo de um jovem seminarista com crise de vocação que acaba por dar uma transada na melhor amiga da miúda que o venera apaixonadamente. Os pais do "wanna be" padre, por sua vez trocam de parceiros sexuais às sextas-feiras à noite. Os costumes da época retratadas por esta novela são inacabáveis ....


Mudando de canal passamos agora para a nova estreia da SIC. Ainda numa fase embrionária, os costumes e personagens retratados parecem fazer ponte com a novela da TVI, é algo de sintomático do que se passa na sociedade portuguesa. Quatro casais amigos, no epicentro um rapagão folião que dorme com duas das mulheres casadas. O amor duma vida está numa aliança, o prazer está numa cama alheia. Corta para, Simone a personagem trágica - um filho lindo, um marido ainda mais lindo, uma casa que faltam adjectivos para a descrever ... no entanto precisa de redescobrir o seu "eu". Encontra-se inquieta a um plano existencial, precisa de sentir coisas novas. Manda tudo às urtigas e faz-se à aventura na estrada da vida.

Realmente, já nada é como dantes! Os absolutos e os certos foram trocados pelos relativos e os incertos. Que confusão são os nossos tempos.